sábado, 13 de abril de 2013

A PARTICIPAÇÃO DO NEGRO NA HISTÓRIA OFICIAL DE JAGUAQUARA É ENFATIZADA E OU DISCUTIDA PELA SOCIEDADE LOCAL?


COSTA. Cláudia Moreira
SANTOS. Cledineia Carvalho

A memória muitas vezes se perde quando não se dá a devida atenção à documentação, aos monumentos e aos costumes locais. No caso específico de Jaguaquara, a história da cidade se resume a alguns livros escritos com o olhar apenas do branco. Esta discussão, toma como base a história oficial de Jaguaquara escrita em três livros, que são utilizados pela população.

Os livros publicados, de maneira velada, negam o fato de que a cultura de Jaguaquara é também formada pela história e cultura de povos africanos. Ao transmitir as informações do mundo numa “visão branca” nega-se a existência e a necessidade de convivência com a diversidade cultural e, consequentemente, retrata a maneira como os negros são silenciados e anulados socialmente.

As culturas ou vozes dos grupos sociais minoritários e/ou marginalizados que não dispõem de estruturas importantes de poder costumam ser silenciadas, quando estereotipadas e deformadas, para anular suas possibilidades de reação.  (SANTOMÉ apud SILVA,  2006, p.161 ).

Todas as vezes que comemoramos o aniversário da cidade, as discussões sobre a sua história se resume a pesquisas em que tem com fontes  o mesmo material que aparece reproduzido. Estas pesquisas e estudos realizados deixam lacunas, ao estudar uma história “vista de cima”, escrita por uma elite que desconsidera a contribuição do negro na formação da cultura jaguaquarense.

Essas questões tem sido motivadoras para buscarmos compreendermos a história real do município de Jaguaquara, uma vez que nos documentos oficiais sobre a história do município dar-se ênfase a uma única família como sendo a fundadora do município e assim, segue ressaltando sobre as contribuições dos imigrantes italianos, japoneses e portugueses, enquanto o negro permanece esquecido.

Entre alguns dos documentos escritos é o livro do professor Lígio Farias cujo título  é bastante intrigante, “Uma história... Jaguaquara com outras histórias”, que nos desperta o desejo de conhecer histórias que até então não foram contadas. No entanto, reproduz o histórico do município sem nenhuma criticidade, colocando os fundadores da cidade como vitoriosos; descreve ainda, os aspectos naturais, econômicos, sociais e culturais e a história dos bairros da cidade. São as mesmas histórias contadas pela elite, apenas foi registrada. Este livro aborda a vinda dos imigrantes para o município e a ascensão social dos mesmos, mas nada trata sobre os povos marginalizados que aqui  já estavam.
Os outros dois livros abordam os dados históricos, intendetes, prefeitos e hinos. Mas cabe perguntar: onde estão nossos 90 anos de documentação? Onde está o relato das experiências de nossas avós e bisavós? Será que damos a devida atenção ao nosso patrimônio material e humano? Será que a participação do negro na história oficial de Jaguaquara é enfatizada e ou discutida pela sociedade local? Quais documentos existem sobre a participação do negro na história oficial da cidade?
A preservação da memória sempre foi um desafio para o historiador, portanto, registrar a memória de um tempo, de um povo e um lugar é buscar elementos para a construção de uma identidade. A memória tem o poder de selecionar segundo os anseios individuais e coletivos do presente, os fatos que devem e podem ser lembrados e ou esquecidos. Para Le Goff,

Tornar-se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. O esquecimento e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva. (LE GOFF, 1994, P. 13).

Nessa perspectiva, é que surgiu a necessidade de se fazer uma pesquisa, cujo objetivo seja descobrir e esclarecer sobre a história do negro em nosso município, uma vez que a maioria da população é afrodescendente e em várias fotografias que contam a história de Jaguaquara, aparecem negros, trabalhando com fumo, na cidade, e na lavoura.

A história do Brasil e história da África estão intimamente relacionadas, cabendo ao historiador e professores ampliar a discussão sobre a escravidão, introduzindo elementos da história dos africanos, de sua cultura e não tratá-los como simples “coisas” não sendo considerados construtores da história local, uma vez que estes tiveram seu trabalho explorado à exaustão no Brasil, antes e após a independência política, e dessa forma também pode ter ocorrido em Jaguaquara.

Dessa maneira, entendemos que a valorização e conhecimento da História Local é o ponto de partida para o processo de formação do cidadão, do agente histórico, pois ela irá romper com a noção de história que se prende apenas ao passado, aos grandes nomes e aos grandes feitos

REFERÊNCIAS:
LE GOFF, J. Memória. In: Enciclopédia Einaudi, volume I. Porto Alegre, 1994.
SANTOMÉ, Jurjo Torres. "As culturas negadas e silenciadas no currículo". In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.) Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. 6ª edição. Petrópolis: Vozes, 2005.

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