COSTA. Cláudia Moreira
SANTOS. Cledineia Carvalho
A memória
muitas vezes se perde quando não se dá a devida atenção à documentação, aos
monumentos e aos costumes locais. No caso específico de Jaguaquara, a história
da cidade se resume a alguns livros escritos com o olhar apenas do branco. Esta
discussão, toma como base a história oficial de Jaguaquara escrita em três
livros, que são utilizados pela população.
Os livros
publicados, de maneira velada, negam o fato de que a cultura de
Jaguaquara é também formada pela história e cultura de povos africanos. Ao transmitir as informações do mundo numa “visão branca” nega-se a
existência e a necessidade de convivência com a diversidade cultural e,
consequentemente, retrata a maneira como os negros são silenciados e anulados socialmente.
As culturas ou vozes dos grupos
sociais minoritários e/ou marginalizados que não dispõem de estruturas
importantes de poder costumam ser silenciadas, quando estereotipadas e
deformadas, para anular suas possibilidades de reação. (SANTOMÉ apud SILVA, 2006, p.161 ).
Todas as
vezes que comemoramos o aniversário da cidade, as discussões sobre a sua
história se resume a pesquisas em que tem com fontes o mesmo material que aparece reproduzido. Estas
pesquisas e estudos realizados deixam lacunas, ao estudar uma história “vista
de cima”, escrita por uma elite que desconsidera a contribuição do negro na
formação da cultura jaguaquarense.
Essas
questões tem sido motivadoras para buscarmos compreendermos a história real do
município de Jaguaquara, uma vez que nos documentos oficiais sobre a história
do município dar-se ênfase a uma única família como sendo a fundadora do
município e assim, segue ressaltando sobre as contribuições dos imigrantes
italianos, japoneses e portugueses, enquanto o negro permanece esquecido.
Entre alguns dos documentos
escritos é o livro do professor Lígio Farias cujo título é bastante intrigante, “Uma história...
Jaguaquara com outras histórias”, que nos desperta o desejo de conhecer
histórias que até então não foram contadas. No entanto, reproduz o histórico do
município sem nenhuma criticidade, colocando os fundadores da cidade como
vitoriosos; descreve ainda, os aspectos naturais, econômicos, sociais e
culturais e a história dos bairros da cidade. São as mesmas histórias contadas
pela elite, apenas foi registrada. Este livro aborda a vinda dos imigrantes
para o município e a ascensão social dos mesmos, mas nada trata sobre os povos
marginalizados que aqui já estavam.
Os outros
dois livros abordam os dados históricos, intendetes, prefeitos e hinos. Mas
cabe perguntar: onde estão nossos 90 anos de documentação? Onde está o relato
das experiências de nossas avós e bisavós? Será que damos a devida atenção ao
nosso patrimônio material e humano? Será que a participação do negro na
história oficial de Jaguaquara é enfatizada e ou discutida pela sociedade
local? Quais documentos existem sobre a participação do negro na história
oficial da cidade?
A preservação da memória sempre
foi um desafio para o historiador, portanto, registrar a memória de um tempo,
de um povo e um lugar é buscar elementos para a construção de uma identidade. A
memória tem o poder de selecionar segundo os anseios individuais e coletivos do
presente, os fatos que devem e podem ser lembrados e ou esquecidos. Para Le
Goff,
Tornar-se
senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das
classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas.
O esquecimento e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de
manipulação da memória coletiva. (LE GOFF, 1994, P. 13).
Nessa perspectiva, é que surgiu a
necessidade de se fazer uma pesquisa, cujo objetivo seja descobrir e esclarecer
sobre a história do negro em nosso município, uma vez que a maioria da
população é afrodescendente e em várias fotografias que contam a história de
Jaguaquara, aparecem negros, trabalhando com fumo, na cidade, e na lavoura.
A história do Brasil e história
da África estão intimamente relacionadas, cabendo ao historiador e professores
ampliar a discussão sobre a escravidão, introduzindo elementos da história dos
africanos, de sua cultura e não tratá-los como simples “coisas” não sendo
considerados construtores da história local, uma vez que estes tiveram seu
trabalho explorado à exaustão no Brasil, antes e após a independência política,
e dessa forma também pode ter ocorrido em Jaguaquara.
Dessa maneira, entendemos que a
valorização e conhecimento da História Local é o ponto de partida para o
processo de formação do cidadão, do agente histórico, pois ela irá romper com a
noção de história que se prende apenas ao passado, aos grandes nomes e aos
grandes feitos
REFERÊNCIAS:
LE GOFF,
J. Memória. In: Enciclopédia Einaudi, volume I. Porto Alegre, 1994.
SANTOMÉ,
Jurjo Torres. "As culturas negadas
e silenciadas no currículo".
In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org.) Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos
estudos culturais em educação. 6ª edição. Petrópolis: Vozes, 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário